A plateia silenciou para ouvir Zé Dirceu



O sol de Brasília já castigava a pele, e nem era meio-dia do primeiro de agosto. Na entrada do Complexo Brasil 21, ele estava lá, com um sorriso no rosto, tirando fotos com os militantes do Partido dos Trabalhadores, que faziam questão de registrar o momento. E esses momentos se repetiram nos três dias em que aconteceu o 17º Encontro Nacional do PT.

Se o PT é essa máquina partidária que conhecemos hoje, muito disso se deve a Zé Dirceu, que ocupou a presidência do partido de 1995 a 2002. A militância, que nunca o abandonou, reconhece nele essa liderança.

No palco, onde delegados partidários de todos os estados brasileiros se revezavam em falas inflamadas defendendo suas posições, no sábado segundo dia do encontro, quem usou o microfone foi o “Comandante”, como Dirceu é carinhosamente chamado pelos filiados. O que viria a seguir foi prenunciado quando o apresentador anunciou seu nome. Bastou isso para que uma catarse coletiva tomasse conta do auditório, com o grito que já virou marca, “Dirceu, guerreiro do povo brasileiro!”

As falas seguiram, cada delegado usando variações no tom de voz para tentar prender a atenção da plateia. A modulação era usada ao gosto do freguês. Palmas e gritos se ouviam, nem sempre por todos, mas certamente por cada tendência interna do partido a que pertenciam os oradores.

Chegado o momento em que Zé Dirceu foi anunciado como o orador responsável por defender a permanência do arcabouço fiscal, conjunto de regras que visa equilibrar as contas públicas, estabelecendo limites para o crescimento dos gastos do governo em relação às receitas, seguiram-se mais de três minutos de gritos, aplausos e palavras de ordem. Era mais uma demonstração do carinho que a militância nutre por ele. Dirceu, visivelmente emocionado, como sempre faz nesses momentos, serrou o punho com o braço estendido.

Bastaram as primeiras palavras de Dirceu para que o momento mais simbólico do Encontro Nacional do Partido dos Trabalhadores acontecesse, a plateia silenciou para ouvi-lo. Não se ouvia um único barulho. Ninguém se levantou, ninguém se dispersou. Todos pararam para escutar o Comandante. Com sua voz calma, sem em nenhum momento alterá-la para ser ouvido, prendeu a atenção de todos. Os olhos estavam fixos em uma só direção, e assim permaneceu até que Dirceu pediu o voto favorável à continuidade do arcabouço fiscal no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ao meu lado, alguém perguntou:

— E agora, o que fazer?

A dúvida sobre como votar naquele momento era evidente. Eu respondi:

— Eu não votaria contra Zé Dirceu nem mesmo se fosse contra o que ele está defendendo.

Rimos um pouco, mas o certo é que aquilo que ele defendeu era, no fim das contas, o que também defendíamos.

Ao final de sua fala, só então, a plateia voltou à catarse coletiva, para saudar o homem que ajudou a construir o maior partido que defende o povo brasileiro.

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