Bolsonaro isolado e incertezas sobre Lula
Embora a maioria dessas legendas considere precipitado qualquer movimento mais direto neste momento, análises internas apontam que Bolsonaro, seus familiares e aliados próximos enfrentam um crescente isolamento político. No entanto, isso não se traduz automaticamente em apoio irrestrito ao governo Lula. Muitos parlamentares ainda têm dúvidas sobre a capacidade do presidente de reconquistar uma base sólida de popularidade. Por isso, algumas siglas cogitam deixar a base governista, mesmo que existam divergências sobre o melhor momento para isso.
“Logo depois, eu vou propor que os partidos e suas bancadas se reúnam e proíbam qualquer membro do partido de participar desse governo”, disse o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), em entrevista na última segunda-feira (21).
Para líderes do centrão, o enfraquecimento do bolsonarismo pode, paradoxalmente, ampliar o poder de negociação do grupo na escolha de um nome da direita para a próxima corrida presidencial. A preferência é por um candidato com o respaldo da família Bolsonaro, mas que não traga o nome “Bolsonaro” como cabeça de chapa. O favorito no momento é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apesar do desgaste recente causado pela discussão sobre tarifas e sua associação ao boné “Maga” (Make America Great Again), símbolo do trumpismo.
Federação partidária e permanência no governo
União Brasil e PP, que fazem parte da atual coalizão governista, estão organizando um evento para 19 de agosto com o objetivo de formalizar a federação União Progressista. A reunião também deve abordar a possível permanência ou saída dos partidos da Esplanada. Atualmente, essas duas legendas controlam quatro ministérios e a presidência da Caixa Econômica Federal, além de outras estatais. O PP comanda o Ministério dos Esportes, liderado por André Fufuca (MA), e a Caixa, que, segundo parlamentares, foi indicação de Arthur Lira (AL). Já o União Brasil está à frente do Turismo (Celso Sabino, PA), Desenvolvimento Regional (Waldez Goés) e Comunicações (Frederico de Siqueira Filho), com os dois últimos nomes indicados por Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Mesmo diante da pressão de líderes como Ciro Nogueira e Antônio Rueda, presidente do União Brasil, para que a saída do governo ocorra ainda este ano, outros setores das legendas defendem postergar essa decisão para abril de 2026 — prazo final para ministros que queiram disputar as eleições se desincompatibilizarem de seus cargos. A avaliação é que uma ruptura antecipada poderia causar desgastes, especialmente entre parlamentares que possuem indicações em postos federais nos estados.
Avaliação do Planalto e cenário de bastidores
No Palácio do Planalto, o entendimento é que os discursos sobre o possível desembarque do centrão têm sido mais retóricos do que práticos. A equipe do governo acredita que a leve melhora na imagem de Lula pode, se confirmada, amenizar o cenário político. Membros do Executivo avaliam que o presidente ganhou impulso ao defender uma política tributária mais justa, cobrando menos dos mais pobres e mais dos mais ricos, além da reação à ameaça de sobretaxa de Trump, que pressionou Tarcísio a ajustar sua postura e deixou bolsonaristas em posição desconfortável.
Para integrantes do PSD, a movimentação de Trump pode fazer Tarcísio repensar sua eventual candidatura ao Planalto, levando-o a tentar a reeleição em São Paulo e abrindo espaço para um nome da família Bolsonaro na disputa presidencial. Um deputado do Republicanos, que recentemente considerava o governo “acabado”, reconhece agora sinais de recuperação por parte de Lula e vê como possível o adiamento da saída dos partidos da base.
Assessores do presidente também reforçam que ameaças de devolução de cargos por parte dessas legendas são frequentes, mas até agora não se concretizaram. O Planalto não espera que esses partidos apoiem Lula de forma oficial em 2026, mas trabalha para garantir que se mantenham neutros, priorizando alianças regionais com lideranças como Davi Alcolumbre. A vice-presidência, atualmente ocupada por Geraldo Alckmin (PSB), pode ser usada como moeda de troca para atrair o MDB, especialmente lideranças como o governador do Pará, Helder Barbalho. Ainda assim, o apoio formal do MDB dependerá de uma recuperação significativa da popularidade do presidente, o suficiente para torná-lo favorito na disputa eleitoral.
Postar um comentário