Centrão adia definição política e observa Lula e Bolsonaro


Líderes de cinco partidos de centro e direita que atualmente integram a base do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiram adotar uma postura de espera antes de tomar qualquer decisão sobre as eleições de 2026. Essa estratégia está diretamente relacionada aos efeitos políticos da sobretaxa comercial anunciada por Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, e às investigações judiciais em torno de Jair Bolsonaro (PL), ex-chefe do Executivo brasileiro.


Bolsonaro isolado e incertezas sobre Lula

Embora a maioria dessas legendas considere precipitado qualquer movimento mais direto neste momento, análises internas apontam que Bolsonaro, seus familiares e aliados próximos enfrentam um crescente isolamento político. No entanto, isso não se traduz automaticamente em apoio irrestrito ao governo Lula. Muitos parlamentares ainda têm dúvidas sobre a capacidade do presidente de reconquistar uma base sólida de popularidade. Por isso, algumas siglas cogitam deixar a base governista, mesmo que existam divergências sobre o melhor momento para isso.

“Logo depois, eu vou propor que os partidos e suas bancadas se reúnam e proíbam qualquer membro do partido de participar desse governo”, disse o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), em entrevista na última segunda-feira (21).

Para líderes do centrão, o enfraquecimento do bolsonarismo pode, paradoxalmente, ampliar o poder de negociação do grupo na escolha de um nome da direita para a próxima corrida presidencial. A preferência é por um candidato com o respaldo da família Bolsonaro, mas que não traga o nome “Bolsonaro” como cabeça de chapa. O favorito no momento é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), apesar do desgaste recente causado pela discussão sobre tarifas e sua associação ao boné “Maga” (Make America Great Again), símbolo do trumpismo.


Federação partidária e permanência no governo

União Brasil e PP, que fazem parte da atual coalizão governista, estão organizando um evento para 19 de agosto com o objetivo de formalizar a federação União Progressista. A reunião também deve abordar a possível permanência ou saída dos partidos da Esplanada. Atualmente, essas duas legendas controlam quatro ministérios e a presidência da Caixa Econômica Federal, além de outras estatais. O PP comanda o Ministério dos Esportes, liderado por André Fufuca (MA), e a Caixa, que, segundo parlamentares, foi indicação de Arthur Lira (AL). Já o União Brasil está à frente do Turismo (Celso Sabino, PA), Desenvolvimento Regional (Waldez Goés) e Comunicações (Frederico de Siqueira Filho), com os dois últimos nomes indicados por Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

Mesmo diante da pressão de líderes como Ciro Nogueira e Antônio Rueda, presidente do União Brasil, para que a saída do governo ocorra ainda este ano, outros setores das legendas defendem postergar essa decisão para abril de 2026 — prazo final para ministros que queiram disputar as eleições se desincompatibilizarem de seus cargos. A avaliação é que uma ruptura antecipada poderia causar desgastes, especialmente entre parlamentares que possuem indicações em postos federais nos estados.


Avaliação do Planalto e cenário de bastidores

No Palácio do Planalto, o entendimento é que os discursos sobre o possível desembarque do centrão têm sido mais retóricos do que práticos. A equipe do governo acredita que a leve melhora na imagem de Lula pode, se confirmada, amenizar o cenário político. Membros do Executivo avaliam que o presidente ganhou impulso ao defender uma política tributária mais justa, cobrando menos dos mais pobres e mais dos mais ricos, além da reação à ameaça de sobretaxa de Trump, que pressionou Tarcísio a ajustar sua postura e deixou bolsonaristas em posição desconfortável.

Para integrantes do PSD, a movimentação de Trump pode fazer Tarcísio repensar sua eventual candidatura ao Planalto, levando-o a tentar a reeleição em São Paulo e abrindo espaço para um nome da família Bolsonaro na disputa presidencial. Um deputado do Republicanos, que recentemente considerava o governo “acabado”, reconhece agora sinais de recuperação por parte de Lula e vê como possível o adiamento da saída dos partidos da base.

Assessores do presidente também reforçam que ameaças de devolução de cargos por parte dessas legendas são frequentes, mas até agora não se concretizaram. O Planalto não espera que esses partidos apoiem Lula de forma oficial em 2026, mas trabalha para garantir que se mantenham neutros, priorizando alianças regionais com lideranças como Davi Alcolumbre. A vice-presidência, atualmente ocupada por Geraldo Alckmin (PSB), pode ser usada como moeda de troca para atrair o MDB, especialmente lideranças como o governador do Pará, Helder Barbalho. Ainda assim, o apoio formal do MDB dependerá de uma recuperação significativa da popularidade do presidente, o suficiente para torná-lo favorito na disputa eleitoral.

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