A cena foi emblemática, foram 383 deputados que enterraram o
aumento do IOF, desafiando publicamente o Planalto. Partidos com ministérios no
governo — MDB, PSD, União Brasil — lideraram a rebelião. Esse não é um caso
isolado, mas o sintoma de uma doença crônica em que os aliados que ocupam
cargos, sugam benesses, mas votam contra o governo quando os interessa. São urubus
que sobrevoam Brasília, atraídos pelo cheiro da carne fresca do poder, sem
compromisso com quem os alimenta.
O governo distribuiu pastas como moeda de coalizão ao MDB,
PSD e União Brasil, cada um deles têm três ministérios. Na teoria, deveriam ser
escudos de Lula no Congresso. Na prática, nas votações cruciais, seus
parlamentares sabotam a base. O caso do Marco do Saneamento é revelador: 31
votos do MDB contra o governo, apenas 1 a favor. A pergunta é inevitável: por
que Lula insiste em negociar com quem o apunhala?
Após a derrota do IOF, o líder do governo na Câmara, José
Guimarães (PT-CE), deu um ultimato: "Os líderes que encaminharam contra o
governo vão ter que decidir se são ou não governo". Enquanto isso
parlamentares pressionam por mais emendas, mais cargos, mais poder — e sangra o
orçamento com medidas como o aumento do número de deputados.
A revogação do IOF abriu um rombo de R$ 20 bilhões. Enquanto
isso, a Instituição Fiscal Independente (IFI) alerta que a dívida pública
ultrapassará 100% do PIB até 2030. O Congresso aprofunda o buraco, mas se
recusa a discutir a rigidez dos gastos — 90% do Orçamento já estão engessados
em despesas obrigatórias. A "agonia fiscal" não é acidente ela é o projeto
de quem lucra com a crise.
Lula enfrenta uma encruzilhada histórica, ou corta o cordão
umbilical que liga o governo a esses "aliados" carniceiros, ou o país
seguirá refém de um Congresso que institucionalizou o fisiologismo. Os urubus
não voarão sozinhos, eles precisam de cadáveres para devorar. E o cadáver,
hoje, é o futuro fiscal do Brasil. A pergunta que fica não é se Lula agirá, mas
se ainda há tempo para salvar o que resta da governabilidade antes que as
hienas matem a presa.
Um governo que se recusa a “dar um canto de carroceira”
nesses parlamentares que só se beneficiam, está fadado a ter problemas nas
próximas eleições. É preciso ter coragem e enfrentar os urubus antes que eles
devorem tudo.
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