A Escolha

Local do encontro hoje


Certo ou errado, a verdade é que há momentos na vida em que precisamos tomar decisões que, de alguma forma, definem quem somos. Hoje, quero compartilhar com você uma história que, apesar de quase irreverente, ainda pulsa em meu coração com a intensidade de um amor verdadeiro e de escolhas que nos transformam.

No meado dos anos 80, desfrutávamos de uma liberdade amorosa que parece ter se perdido com o passar do tempo. Nessa época, tive o privilégio de conhecer duas mulheres encantadoras, cada uma com uma beleza singular e personalidades marcantes. Para preservar suas identidades, chamarei a morena de Maria e a mulher de traços delicados de Helena. Mesmo assim, suas lembranças permanecem vívidas, como retratos de tempos intensos e repletos de emoções.

Maria era uma morena de estatura mediana, cuja pele suave acendia em mim uma paixão arrebatadora a cada abraço e beijo caloroso. Havia nela uma doçura e espontaneidade que faziam meu coração acelerar; seu sorriso era sincero, revelando uma alma apaixonada e determinada, que não temia entregar o amor de corpo e alma.

Já Helena possuía uma beleza mais sutil, com traços delicados e um corpo esguio que, aliado a um ar de mistério e certa distância, despertava em mim uma fascinação que ia além do físico. Um pouco mais alta que eu, ela exalava um charme enigmático e, embora seu comportamento às vezes parecesse frio e reservado, pude, em breves momentos, vislumbrar a sensibilidade e a vulnerabilidade que se escondiam por detrás daquela fachada impenetrável.

Naquele ímpeto, entreguei-me a um amor dividido. Sim, eu mantinha relações com as duas simultaneamente, buscando, com certo receio, equilibrar os encontros de forma a manter o segredo intacto. Por cerca de um mês, vivi momentos intensos e contradições que, inevitavelmente, caminhavam para o inevitável: a descoberta da verdade.

Moro próximo ao colégio onde Helena estudava e, ao final de cada aula, ela surgia timidamente na rua, como um raio de sol despontando entre a multidão. Diariamente, esperava na porta da casa dos meus pais, ansioso por vê-la. Porém, em um dia que parecia comum, o inesperado aconteceu: Maria chegou à minha casa cerca de dez minutos antes, trazendo consigo a tensão que eu tanto temia. Seu aparecimento repentino, enquanto alunos passavam pela esquina, enchia o ambiente de uma tensão quase palpável, como se o destino estivesse prestes a desvendar nosso segredo.

Helena já chegava, com um semblante que denunciava descontentamento, ao notar a situação inusitada. Ali, na porta de casa, entre conversas hesitantes e longos silêncios, a pergunta inquietante que mudaria tudo irrompeu:

— E para ele, o que você é?

Com a audácia que sempre marcou sua personalidade, Maria respondeu com um sorriso enigmático:

— Namorada!

— Então somos duas, afinal, eu também sou namorada dele.

Naquele momento, um sorriso nervoso e sem graça se formou em meu rosto. Maria sempre fora decidida, e essa postura deixou clara a necessidade de uma escolha imediata:

— E agora, com quem você vai ficar? Porque manter as duas não é uma opção.

Sem hesitar, deixado levar pelo impulso, respondi:

— Com Helena!

Por instantes, o rosto de Maria se transformou; o sorriso desapareceu, dando lugar a uma tristeza silenciosa que carrego até hoje. Helena, com uma expressão quase imperturbável, como se já tivesse vencido uma batalha invisível, permanecia sem um único movimento. 

Decepcionada, Maria levantou-se lentamente, lançou-me um olhar carregado de pesar e partiu sem dizer mais nada. O impacto de sua partida cortou o ar, e, embora meu coração se apertasse ao ver aquela tristeza, me convenci de ter tomado a decisão correta naquele instante.

Após cerca de uma semana, encontrei dificuldades para estar com Helena. Ela frequentemente inventava desculpas para evitar nossos encontros, e em oito dias consegui vê-la apenas duas vezes. Contudo, num sábado que se prometia diferente – durante uma festa na casa de um amigo – pensei que aquele seria o momento ideal para reconectar e, quem sabe, selar nosso destino juntos.

Naquela noite, ao chegar à festa, fui surpreendido pela visão de Helena, mais deslumbrante do que jamais a tinha visto. Com o coração repleto de esperança, aproximei-me e a convidei para dançar, imaginando reviver a magia dos nossos momentos. Mas, de forma inesperada, ela recusou. Foi então que percebi, com uma clareza dolorosa, que algo não estava certo.

Aos poucos, fui me sentindo cada vez mais ignorado enquanto ela se divertia animadamente com suas amigas em um canto da sala. Seu sorriso contagiante, que à primeira vista prometia bem-estar, escondia uma distância que eu não conseguia transpor. Com receio e o coração apertado, aproximei-me novamente e perguntei, com a voz trêmula:

— Ainda estamos namorando?

Sem rodeios, Helena respondeu, de forma seca e definitiva:

— Não!

Aquele instante foi devastador. Em apenas quinze dias, o que parecia um amor dividido e possível transformou-se em solidão amarga. A escolha precipitada me deixou com a certeza de que, na verdade, tomei a decisão errada.

Após dispensar Maria, seus rastros tornaram-se raros; se a encontrasse novamente, dificilmente a reconheceria. Quanto a Helena, continuei a vê-la por algum tempo, mas ela evitava qualquer contato, como se quisesse apagar dos registros de sua vida o que havíamos vivido juntos.

Nem sempre nossas escolhas são as melhores, mas o essencial é vivenciar intensamente cada instante. O que ficou foi uma história, uma lembrança dolorosa e, ao mesmo tempo, um ensinamento profundo sobre o valor do amor, da sinceridade e, principalmente, da coragem de assumir nossos sentimentos – mesmo que, ao fazê-lo, sacrifiquemos parte de nós.

Essa crônica não é apenas um relato de amores e despedidas; é também um convite para que cada um reflita sobre as encruzilhadas que a vida nos impõe, sempre nos lembrando de que, por trás de cada decisão, há corações pulsando e histórias únicas, repletas de paixão, vulnerabilidade e, inevitavelmente, humanidade.

Dimas Roque.

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