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Local do encontro hoje |
Certo ou errado, a verdade é que há momentos na vida em que
precisamos tomar decisões que, de alguma forma, definem quem somos. Hoje, quero
compartilhar com você uma história que, apesar de quase irreverente, ainda
pulsa em meu coração com a intensidade de um amor verdadeiro e de escolhas que
nos transformam.
Maria era uma morena de estatura mediana, cuja pele suave
acendia em mim uma paixão arrebatadora a cada abraço e beijo caloroso. Havia
nela uma doçura e espontaneidade que faziam meu coração acelerar; seu sorriso
era sincero, revelando uma alma apaixonada e determinada, que não temia
entregar o amor de corpo e alma.
Já Helena possuía uma beleza mais sutil, com traços
delicados e um corpo esguio que, aliado a um ar de mistério e certa distância,
despertava em mim uma fascinação que ia além do físico. Um pouco mais alta que
eu, ela exalava um charme enigmático e, embora seu comportamento às vezes
parecesse frio e reservado, pude, em breves momentos, vislumbrar a
sensibilidade e a vulnerabilidade que se escondiam por detrás daquela fachada
impenetrável.
Naquele ímpeto, entreguei-me a um amor dividido. Sim, eu
mantinha relações com as duas simultaneamente, buscando, com certo receio,
equilibrar os encontros de forma a manter o segredo intacto. Por cerca de um
mês, vivi momentos intensos e contradições que, inevitavelmente, caminhavam
para o inevitável: a descoberta da verdade.
Moro próximo ao colégio onde Helena estudava e, ao final de
cada aula, ela surgia timidamente na rua, como um raio de sol despontando entre
a multidão. Diariamente, esperava na porta da casa dos meus pais, ansioso por
vê-la. Porém, em um dia que parecia comum, o inesperado aconteceu: Maria chegou
à minha casa cerca de dez minutos antes, trazendo consigo a tensão que eu tanto
temia. Seu aparecimento repentino, enquanto alunos passavam pela esquina,
enchia o ambiente de uma tensão quase palpável, como se o destino estivesse
prestes a desvendar nosso segredo.
Helena já chegava, com um semblante que denunciava
descontentamento, ao notar a situação inusitada. Ali, na porta de casa, entre
conversas hesitantes e longos silêncios, a pergunta inquietante que mudaria
tudo irrompeu:
— E para ele, o que você é?
Com a audácia que sempre marcou sua personalidade, Maria
respondeu com um sorriso enigmático:
— Namorada!
— Então somos duas, afinal, eu também sou namorada dele.
Naquele momento, um sorriso nervoso e sem graça se formou em
meu rosto. Maria sempre fora decidida, e essa postura deixou clara a
necessidade de uma escolha imediata:
— E agora, com quem você vai ficar? Porque manter as duas
não é uma opção.
Sem hesitar, deixado levar pelo impulso, respondi:
— Com Helena!
Por instantes, o rosto de Maria se transformou; o sorriso
desapareceu, dando lugar a uma tristeza silenciosa que carrego até hoje.
Helena, com uma expressão quase imperturbável, como se já tivesse vencido uma
batalha invisível, permanecia sem um único movimento.
Decepcionada, Maria levantou-se lentamente, lançou-me um
olhar carregado de pesar e partiu sem dizer mais nada. O impacto de sua partida
cortou o ar, e, embora meu coração se apertasse ao ver aquela tristeza, me
convenci de ter tomado a decisão correta naquele instante.
Após cerca de uma semana, encontrei dificuldades para estar
com Helena. Ela frequentemente inventava desculpas para evitar nossos
encontros, e em oito dias consegui vê-la apenas duas vezes. Contudo, num sábado
que se prometia diferente – durante uma festa na casa de um amigo – pensei que
aquele seria o momento ideal para reconectar e, quem sabe, selar nosso destino
juntos.
Naquela noite, ao chegar à festa, fui surpreendido pela
visão de Helena, mais deslumbrante do que jamais a tinha visto. Com o coração
repleto de esperança, aproximei-me e a convidei para dançar, imaginando reviver
a magia dos nossos momentos. Mas, de forma inesperada, ela recusou. Foi então
que percebi, com uma clareza dolorosa, que algo não estava certo.
Aos poucos, fui me sentindo cada vez mais ignorado enquanto
ela se divertia animadamente com suas amigas em um canto da sala. Seu sorriso
contagiante, que à primeira vista prometia bem-estar, escondia uma distância
que eu não conseguia transpor. Com receio e o coração apertado, aproximei-me
novamente e perguntei, com a voz trêmula:
— Ainda estamos namorando?
Sem rodeios, Helena respondeu, de forma seca e definitiva:
— Não!
Aquele instante foi devastador. Em apenas quinze dias, o que
parecia um amor dividido e possível transformou-se em solidão amarga. A escolha
precipitada me deixou com a certeza de que, na verdade, tomei a decisão errada.
Após dispensar Maria, seus rastros tornaram-se raros; se a
encontrasse novamente, dificilmente a reconheceria. Quanto a Helena, continuei
a vê-la por algum tempo, mas ela evitava qualquer contato, como se quisesse
apagar dos registros de sua vida o que havíamos vivido juntos.
Nem sempre nossas escolhas são as melhores, mas o essencial
é vivenciar intensamente cada instante. O que ficou foi uma história, uma
lembrança dolorosa e, ao mesmo tempo, um ensinamento profundo sobre o valor do
amor, da sinceridade e, principalmente, da coragem de assumir nossos
sentimentos – mesmo que, ao fazê-lo, sacrifiquemos parte de nós.
Essa crônica não é apenas um relato de amores e despedidas;
é também um convite para que cada um reflita sobre as encruzilhadas que a vida
nos impõe, sempre nos lembrando de que, por trás de cada decisão, há corações
pulsando e histórias únicas, repletas de paixão, vulnerabilidade e,
inevitavelmente, humanidade.
Dimas Roque.
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