Deixa eu contar uma história que vale um riso ou dois. Lá
nos anos 80, em plena ditadura militar, eu era um jovem revolucionário junto
com alguns amigos, éramos frequente nas salas de aula (ou quase isso). Junto
com meus amigos secundaristas, a gente fazia vaquinha para participar de
encontros de estudantes em cidades como Salvador, Fortaleza e Campinas na luta
pela reconstrução da entidade e pela redemocratização do Brasil. Nossa tática
era simples: ir às salas de aula, pedir contribuições e esperar que as
moedinhas caíssem como um milagre. Às vezes, até caía algo maior que moedas
(obrigado, estudante generosos).
Em 1981, estávamos empenhados na reconstrução da UBES – União
Brasileira dos Estudantes Secundaristas. E foi aí que me veio uma ideia
brilhante (ou nem tanto). Eu gostava de escrever poesias – tão bonitas,
modéstia à parte, que até imaginei estampá-las em camisetas brancas e vender para
arrecadar um pouco mais. Poeta mercenário? Talvez.
Convenci meu amigo César Alves, um gênio da arte, a pintar a
arte para as 20 camisetas. Metade com uma poesia minha e metade com outra (sim,
tenho um estoque de inspiração). No dia seguinte, fui armado de esperança para
as salas de aula. "Agora vai", pensei. Mas sabe quantas camisetas eu
vendi? Nenhuma. Nem pra pagar uma beira seca na cantina.
Lá estava eu, frustrado e quase virando um poeta
incompreendido, quando minha professora de português entrou na história.
Comprou uma camiseta (obrigado, professora!) e, com a sinceridade de um chute
no estômago, disse:
— Se fosse Carlos Drummond de Andrade, todos
comprariam.
Fiquei ali, refletindo: "Então o problema não é a
poesia. É o nome."
Foi assim que, no dia seguinte, voltei ao César e pedi:
"Taca uma tarja preta no meu nome e põe aí: Carlos Drummond de
Andrade." E pronto. A mágica do marketing.
Com as camisetas "drummondizadas", voltei às salas
de aula. E adivinhe? Vendi tudo. Rápido como passe de mágica. Alguns dias
depois encontrei, minha professora:
— E aí, conseguiu vender as camisetas?
— Consegui, professora. Vendi tudo. Só botei o nome Carlos
Drummond... dispensei o "Andrade" no final.
Moral da história? O nome certo vende até poesia sobre uma
pedra no caminho. Os lucros ajudaram a bancar nossa alimentação nas viagens. E
assim, por um breve momento, eu fui Carlos Drummond de Andrade... ou algo
próximo disso.
Por: Dimas Roque
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