Os sabores perdidos do Nordeste (Por Dimas Roque)

Eu ainda me lembro do cheiro da manteiga de garrafa que invadia a nossa cozinha quando eu era criança. Era um cheiro único, que ficava no ar mesmo depois de fechar a garrafa. Era um cheiro que eu nunca mais esqueci. Naquele tempo, há uns 45 anos atrás, a manteiga de garrafa era uma das coisas mais saborosas e cheirosas que existiam. Era um luxo que a gente só podia comprar de vez em quando, porque não tínhamos muito dinheiro. Minha mãe tinha que economizar muito para trazer aquela garrafa com a manteiga de gado, que era uma festa em casa. A gente comia com pão aguado e ensopado, queimado no fogo de lenha. Era como estar no paraíso, desfrutando do alimento preferido ao lado de Deus.

O mesmo acontecia com o queijo de manteiga e o requeijão. Cada pedaço deles dentro do pão era uma delícia que satisfazia a gente. Eles tinham um sabor característico, que combinava com a manteiga. Mas esses sabores ficaram no passado. A manteiga perdeu o sabor, o queijo virou uma massa sem graça, que como dizem por aqui, "é a mesma que comer isopor". Não tem sabor nenhum.

Um dia, eu fui à feira da cidade de Paulo Afonso, na Bahia, onde eu moro, e perguntei a uma vendedora desses produtos por que a manteiga tinha perdido o cheiro característico e o queijo o sabor. Ela me disse que no caso do queijo, os produtores estavam usando muita farinha de trigo para dar volume na mercadoria e no caso da manteiga, ela não sabia, mas também tinha percebido que o cheiro tinha sumido. Ela disse que tinha gente que dizia que estavam usando óleo de cozinha durante o processo de fabricação.

Hoje em dia, eu não tenho mais vontade de ir à feira comprar manteiga de garrafa para colocar no feijão de corda. Não vale mais a pena. O feijão fica muito gorduroso e o sabor não se destaca. E assim vamos perdendo, com a tal da tecnologia, os sabores e cheiros característicos dos alimentos típicos do Nordeste brasileiro.

E isso porque eu nem falei do queijo de coalho. Tem uns que se colocam na assadeira e se desmancham em soro. Mas isso é assunto para outra conversa.

Por Dimas Roque

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem