O Calor do Asfalto em sua cidade

Paulo Afonso, Bahia – Nos últimos dias, a onda de calor tem sido um tema recorrente em todo o país. Entretanto, pouco se discute sobre o impacto desse aumento de temperatura nas cidades, especialmente aquelas situadas no semiárido nordestino, onde a colocação de asfalto nas ruas, frequentemente sobre calçamentos de paralelepípedos, tem transformado essas localidades em verdadeiras "ilhas de calor".

Paulo Afonso, cidade do sertão baiano, tornou-se um verdadeiro micro-ondas durante os meses de outono e verão. A partir das 10h da manhã, andar de motocicleta nas ruas se torna uma tarefa quase impraticável. À medida que o dia avança e o relógio se aproxima do meio-dia, até as 15h, a sensação de calor emanando do asfalto torna-se insuportável, com ondas de calor que queimam a pele.

Nos anos 80, era comum ver pessoas pelas ruas, desfrutando do ambiente, seja jogando dominó nas calçadas ou crianças brincando com bolas. No entanto, à medida que a ideia de que o desenvolvimento urbano estava intrinsecamente ligado à pavimentação asfáltica ganhou força, as ruas da cidade foram progressivamente cobertas com asfalto, começando pelo centro e se estendendo às áreas periféricas. Hoje, boa parte de Paulo Afonso é coberta por esse material.

A crença de que o asfalto beneficia automóveis e motocicletas é, de fato, equivocada. O asfalto, devido à sua composição, cor escura e alta capacidade térmica, contribui para a retenção de calor, resultando em temperaturas mais altas e sensações térmicas desconfortáveis. Como o site Olhar Digital destaca, "o asfalto potencializa a formação das chamadas ilhas de calor."

Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) aponta que o asfalto pode elevar as temperaturas noturnas nas cidades em até 5 graus Celsius. Isso explica por que, mesmo às 20h, o asfalto ainda irradia calor, enquanto calçamentos de paralelepípedos permanecem frios.

A falta de áreas verdes na cidade agrava ainda mais a sensação de calor, tornando-a insuportável para os moradores. Paulo Afonso, que se tornou um verdadeiro micro-ondas para o corpo humano em prol da preservação de automóveis e seus proprietários, enfrenta consequências visíveis. As ruas, outrora animadas, agora estão vazias, o comércio sofre com a escassez de compradores, e aqueles que ousam sair se queixam do calor implacável que assola a cidade.

Portanto, fica evidente que a pavimentação asfáltica, embora possa oferecer benefícios para o tráfego de veículos, gera desafios significativos para a qualidade de vida dos habitantes de Paulo Afonso. A discussão sobre alternativas para mitigar o impacto das ilhas de calor e promover ambientes mais saudáveis na cidade se torna urgente.

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