O homem da cobra sumiu das feiras livre

A feira livre em Paulo Afonso na Bahia já foi uma das atrações da cidade. Sim, atração mesmo. Daquelas que juntava toda a gente da cidade a da região. Ela já mudou de lugar tantas às vezes até montar residência no local que atualmente está. E isto desde os anos 80.

As barracas coloridas com suas lonas amarradas por barbantes uma nas outras serviram para aplacar o sol escaldante que faz aqui no sertão. E enquanto íamos percorrendo os corredores formados por elas, se ouvia já ao longe aquela voz anunciando a pomada milagrosa que, segundo aquele homem, curava “eczema”, “furúnculo”, “bicho de pé”, “dor de garganta”, e até “impotência sexual”.

Logo se juntava dezenas de pessoas para ouvir e ver o cabra que tinha uma mala de couro colocada estrategicamente aos seus pés e que vês ou outra anunciava que dentro tinha uma cobra. Enquanto ia falando dos poderes da pomada, com um porrete na mão batia na mala. Acredito que era para que aquela serpente não dormisse por um minuto.

O cheiro da pomada tomava conta do ambiente. Aquele homem chamava pessoas do público para demonstrar o milagre que a pomada faria. Passava de um lado do braço, no pulso, e mandava outra pessoa cheirar o outro lado. Seria o indicativo de que a milagrosa, de tem penetrante, ultrapassaria o corpo do paciente e operaria o prodígio.

Outro milagre ofertado pelo homem da cobra era o eligir em forma de xarope que matava “lombriga”, “mal da mulher”, “dor de barriga” e “dor de cabeça”.

Lá pelas tantas e após ser cobrado insistentemente por aquelas pessoas que se amontoavam, alguns para comprar, a maioria para ver a cobra da mala, o homem encenava a cena como se estivesse em um teatro. Batia com o porrete, chutava a mala, falava sem parar. Tudo para manter as pessoas atentas ao grande momento.

Ele ainda fazia uma última parada para ofertar aqueles remédios, que como dizia, “que só os médicos da capital tinham para usar”. E eis que ele abre a mala e dentro à serpente não movia um só músculo. As pessoas empurravam umas as outras para melhor ver a cobra. A meninada, de cócoras durante horas, se levantava assustada e maravilhada com o que via. De repente, com o pé, o homem fechava novamente a mala.

Aquela cena não durava mais do que poucos minutos e tudo voltava ao normal. O homem continuava a falar sobre os produtos milagrosos, parte das pessoas iam saindo, outras continuavam pelo local, esperando nova aparição da serpente.

E era assim que nossos sábados aconteciam nas feiras. Enquanto o homem da cobra vendia seus produtos em um lado da feira, do outro lado podia se ouvir uma voz vendendo Cordel. Mas isso é outra história.

 

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