Mulheres sergipanas geram renda familiar e impactam em dados positivos para a economia

Mulheres do campo demonstram o seu potencial produtivo e protagonismo nas diversas áreas

O trabalho das mulheres do campo tem peso importante para a renda familiar e para a economia local. Elas realizam uma diversidade de atividades remuneradas como pescadora, costureira, artesã, agricultora e criadora de pequenos animais, nas áreas da avicultura e ovinocaprinocultura, como também no beneficiamento e processamento de alimentos.

Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o testemunho de mulheres do campo demonstra o seu potencial produtivo e a importância do trabalho da mulher para a economia; também avanços no auto-reconhecimento enquanto protagonista no aspecto econômico, auto-organização dos grupos de mulheres que encontraram nesse espaço de participação a oportunidade de empoderamento político e de valorização do papel feminino na sociedade. Por outro lado, expressam o sentimento de que muito ainda precisa ser feito, quanto ao reconhecimento e visibilização do trabalho não remunerado, quanto à criação de mais oportunidades de gerar renda e participar da gestão financeira mais ampla na casa e na comunidade, e ainda na redução da violência, na divisão justa do trabalho doméstico e nos cuidados com a família.

É inspirador o exemplo de Edjane Alves das Neves, presidente da Associação dos Pescadores do Povoado Betume, em Neópolis. Ela e outras mulheres resolveram participar das atividades produtivas de criação intensiva de peixe em tanque-rede. “Nos unimos aos homens e fomos buscar financiamento para ampliar nossa produção. Hoje cultivamos cerca de duas toneladas por ano. Nossa renda melhorou muito, ampliamos nossas casas e estamos criando nossos filhos com mais condições”, disse Edjane.

Quinze mulheres da Vila Operária Passagem, em Neópolis, dão exemplo de que a união pode transformar a realidade. A artesã Lígia de Oliveira Santos conta que a ociosidade era o sentimento comum, então se uniram em associação, aprenderam a fazer o artesanato em palha de ouricuri e, hoje, são referência em todo o estado pela qualidade de suas peças. “Nós primeiro aprendemos a técnica com uma amiga, aperfeiçoamos em um curso no Sebrae, conseguimos financiamento e hoje fazemos cerca de mil reais na venda do artesanato”, destacou. “Não me vejo sem fazer essa atividade”, conta a artesã Maria da Conceição.

 

Transformações

Segundo a consultora do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Rodica Weitzman, o Projeto Dom Távora realizado pelo Governo de Sergipe, em parceria com o FIDA, traz conquistas importantes para transformações nas relações de gênero, raça e etnia. Para ela, as mulheres exercem diversas funções, enquanto pescadoras, artesãs, quilombolas, agricultoras ou criadoras de pequenos animais, em múltiplas identidades que deveriam ser reconhecidas. “Houve um divisor de águas dentro do Projeto Dom Távora, que foi a implementação das Cadernetas Agroecológicas para registrar e visibilizar essa produção que as mulheres protagonizam no seu cotidiano, a partir das relações que constroem com a natureza e com outras pessoas, enquanto guardiãs da sociobiodiversidade”, afirma Rodica Weitzman.

Segundo ela, o Dom Távora é o projeto que mais dá apoio e visibilidade ao trabalho das mulheres no artesanato, dentre todos os projetos apoiados pelo FIDA no semiárido. “Não se restringe a um tipo de artesanato (palha, cerâmica e vários bordados). Essa diversidade testemunha as tradições culturais, demonstra a riqueza transmitida de geração para geração e o papel fundamental das mulheres na manutenção deste patrimônio cultural. Outro indicador importante dos avanços do projeto tem a ver com esta dimensão do empoderamento político. Hoje vemos uma representação mais expressiva, uma vez que muito mais mulheres têm ocupado cargos na gestão das associações e de outras organizações de base comunitária. O projeto vem incentivando a participação das mulheres nas comissões de licitação ou de compra, reconhecendo o lugar da mulher na gestão financeira dos planos de negócio. De acordo com Rodica Weitzman, o Projeto Dom Távora está deixando várias sementes. “Agora apenas falta regá-las com cuidado, para que possamos deixar como legado plantas fortificadas que crescem em terras adubadas. Assim, vamos abrindo caminhos para garantir a sustentabilidade das estratégias que foram colocadas na prática, na região semiárida do Sergipe”, completou Rodica.

Para a representante da Federação dos Trabalhadores e Agricultores Familiares de Sergipe (Fetase), Nadriele Rocha, neste dia 08 de março é importante ressaltar a importância da mulher, trabalhadora rural, agricultora familiar e trabalhadora do campo. “A mulher tem seu protagonismo na produção agrícola, desde a semeadura até a colheita, mas apesar de sempre fazerem parte de todo o processo, as mulheres eram vistas em seu grupo familiar como ajudantes. Através de muitas lutas travadas por movimentos sindicais e sociais, as mulheres vem conquistando o empoderamento feminino e um protagonismo muito grande em qualquer atividade que ela exerce, principalmente na área rural”, afirmou. De acordo com Nadriele, é importante ter exemplos de mulheres vencedoras no campo. “Isso para que nós mulheres possamos nos ver como espelhos e ser espelho para outras mulheres, seja nas cozinhas, nas casas de farinha, nas lavouras, em qualquer espaço, pois lugar de mulher é onde ela quiser”, ressaltou.

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